sexta-feira, agosto 06, 2004

Early Blogging

Também eu quero abrir-te e semear

Um grão de poesia no teu seio!

Anda tudo a lavrar,

Tudo a enterrar centeio,

E são horas de eu pôr a germinar

A semente dos versos que granjeio.



Na seara madura de amanhã

Sem fronteiras nem dono,

Há de existir a praga da milhã,

A volúpia do sono

Da papoula vermelha e temporã,

E o alegre abandono

De uma cigarra vã.



Mas das asas que agite,

O poema que cante

Será graça e limite

Do pendão que levante

A fé que a tua força ressuscite!



Casou-nos Deus, o mito!

E cada imagem que me vem

É um gomo teu, ou um grito

Que eu apenas repito

Na melodia que o poema tem.



Terra, minha aliada

Na criação!

Seja fecunda a vessada,

Seja à tona do chão,

Nada fecundas, nada,

Que eu não fermente também de inspiração!



E por isso te rasgo de magia

E te lanço nos braços a colheita

Que hás de parir depois...

Poesia desfeita,

Fruto maduro de nós dois.



Terra, minha mulher!

Um amor é o aceno,

Outro a quentura que se quer

Dentro dum corpo nu, moreno!



A charrua das leivas não concebe

Uma bolota que não dê carvalhos;

A minha, planta orvalhos...

Água que a manhã bebe

No pudor dos atalhos.



Terra, minha canção!

Ode de pólo a pólo erguida

Pela beleza que não sabe a pão

Mas ao gosto da vida!



(Miguel Torga)



*



Bom dia!

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