terça-feira, fevereiro 22, 2005

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

(Florbela Espanca)

*

Faz algum tempo que comecei a ler poesia. Tinha a ideia que era um estilo literário do qual não gostava; sempre tive preferência pela prosa. Mas tenho descoberto que dentro deste estilo literário tão belo, há com toda a certeza algum autor que na sua maneira de fazer poesia tem a capacidade de nos fazer apreciar esta arte - a arte de criar poesia.

Não se lê poesia como se lê um qualquer romance. A poesia é literatura com um sabor diferente que nos leva a ler com mais calma, sem pressa de chegar ao fim, ler e voltar a ler...

O soneto intitulado Vaidade de Florbela Espanca é dos que mais aprecio desta nossa poetisa.

domingo, fevereiro 13, 2005

Livro Lido - A Escada

O livro A Escada, escrito por Carlos Gouveia e Melo, recebeu o Prémio Revelação APE / IPLB na área de ficção, conforme se pode verificar aqui.

A história tem como personagem central Sérgio Louro, uma pessoa que chamarei de normal e cuja vida é igual à de tantas outras pessoas, nem desejável nem detestável.

Sérgio Louro habita num prédio sem elevador e certo dia pela manhã ao descer as escadas para se dirigir ao emprego descobre espantado que os degraus não têm fim. Daqui por diante todo o enredo gira à volta da situação de irrealidade na qual Sérgio de repente se encontra e da qual não consegue sair, apesar da ajuda que procura junto das outras pessoas que também parecem estar em situação idêntica à sua.

Esta história retrata no fundo a necessidade inerente à existência humana de caminharmos com um propósito e precisarmos chegar a algum lugar.

Quanto ao interesse despertado pela narrativa, classifico-o de medíocre. Quanto à história em si, apenas me ocorre uma palavra: inverosímil.

Quero aqui deixar uma palavra de agradecimento

à Maria pela ajuda com a frase "não se escreve sobre o que se pensa, antes pensa-se sobre o que escreve."

Durante alguns dias andei com estas palavras como que a dançar perante mim. Cheguei até a pensar que eram da minha própria autoria, mas não. Infelizmente.

Conforme podemos ler no Citador nas Citações do tema Literatura, Louis Aragon diz o seguinte "Pensa-se a partir do que escreve e não o contrário." Penso serem estas as palavras que estão na origem daquelas que durante uns dias me vinham ao pensamento.