terça-feira, fevereiro 22, 2005

Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher todo o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

(Florbela Espanca)

*

Faz algum tempo que comecei a ler poesia. Tinha a ideia que era um estilo literário do qual não gostava; sempre tive preferência pela prosa. Mas tenho descoberto que dentro deste estilo literário tão belo, há com toda a certeza algum autor que na sua maneira de fazer poesia tem a capacidade de nos fazer apreciar esta arte - a arte de criar poesia.

Não se lê poesia como se lê um qualquer romance. A poesia é literatura com um sabor diferente que nos leva a ler com mais calma, sem pressa de chegar ao fim, ler e voltar a ler...

O soneto intitulado Vaidade de Florbela Espanca é dos que mais aprecio desta nossa poetisa.

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